Desabafo de um bom marido
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Luís Fernando Veríssimo
Minha
esposa e eu sempre andamos de mãos dadas. Se eu soltar, ela vai às compras.
Ela tem um liquidificador elétrico, uma torradeira elétrica, e uma máquina de
fazer pão elétrica. Então ela disse : “Nós temos muitos aparelhos,
mas não temos lugar pra sentar”. Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Eu
me casei com a “Sra. Certa”. Só não sabia que o primeiro nome dela era
“Sempre”. Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de
interrompê-la. Mas tenho que admitir, a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou: “O que tem na TV?” E eu disse “Poeira”. No começo Deus criou o
mundo e descansou. Então, Ele criou o homem e descansou. Depois, criou a
mulher. Desde então, nem Deus, nem o homem, nem o Mundo tiveram mais descanso.
Quando
o nosso cortador de grama quebrou, minha mulher ficava sempre me dando a
entender que eu deveria consertá-lo. Mas eu sempre acabava tendo outra coisa
para cuidar antes, o caminhão, o carro, a pesca, sempre alguma coisa mais
importante para mim. Finalmente ela pensou num jeito esperto de me convencer.
Certo dia, ao chegar em casa, encontrei-a sentada na grama alta, ocupada em
podá-la com uma tesourinha de costura. Eu olhei em silêncio por um tempo, me
emocionei bastante e depois entrei em casa. Em alguns minutos eu voltei com
uma escova de dentes e lhe entreguei.
“-
Quando você terminar de cortar a grama”, eu disse, “você pode também varrer a
calçada.”
Depois
disso não me lembro de mais nada. Os médicos dizem que eu voltarei a andar,
mas mancarei pelo resto da vida.
O
casamento é uma relação entre duas pessoas na qual uma está sempre certa e a
outra é o marido...
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